História do Candomblé
O candomblé e uma religião que teve origem na cidade de Ifé, na África, e foi trazida para o Brasil pelos negros iorubas. Seus deuses são os Orixás, dos quais somente 16 são cultuados no nosso país: Essú, Ògun, Osossì, Osanyin, Obalúaye, Òsúmàré, Nàná Buruku, Sàngó, Oya, Oba, Ewa, Osun, Yemanjá, Logun Ede, Oságuian e Osàlufan.
O pai ou a mãe de santo é a autoridade máxima dentro do candomblé. Eles são escolhidos pelos próprios Orixás para que os cultuem na terra. Os orixás os induzem a isto, fazem com que as pessoas por eles escolhidas sejam naturalmente levadas à religião, até que assumam o cargo para o qual estão destinadas. Uma pessoa não pode optar se quer ou não ser um Pai ou Mãe de Santo se não acontecer durante sua vida fatos que a levem a isto. São pessoas que de alguma forma são iluminadas pelos Orixás para que cumpram seu destino.
Os Pais de Santo, normalmente, são donos de uma roça, ou seja, um lugar onde estão plantados todos os axés e no qual os Orixás são cultuados. Dentro da roça existe o barracão (assim denominado por causa dos negros que antigamente moravam em barracões), que é o lugar em que são feitos os grandes assentamentos (oferendas) para os deuses.
Hierarquicamente, existe, ainda, na roça um pai pequeno ou mãe pequena, que é o braço direito do Pai de Santo e é normalmente um filho ou filha da casa. Depois vem as Ekedes, são mulheres também escolhidas pelos Orixás para cuidar deles e ajudá-los. Embora seja considerada autoridade dentro da roça, não podem ser Yalorixás, visto que sua função já foi determinada e não há como mudar. A seguir vem os Ogans, que tocam o atabaques e ajudam o Babalorixá nos fundamentos da casa; a Ya Bace, que toma conta da cozinha, isto é, de todas as comidas dos Santos; a Ya Efun, dona do efun (pemba), e que está encarregada de pintas os Yaôs (iniciantes que estão recolhidos para fazerem o Orixá); e finalmente os filhos de Santos, que são as pessoas que “rasparam o Santo”, ou melhor, rasparam a cabeça para um Santo a pedido deste.
Às vezes o Santo, ou Orixá, incorpora em determinadas pessoas, mas não necessidade que haja esta “incorporação” para que uma pessoa raspe o Santo. Se a pessoa deve ou não raspar o Santo só pode ser sabido com certeza através do jogo de búzios do Pai ou Mãe de Santo que, diga-se de passagem, são os únicos que podem jogar búzios.
O candomblé é uma religião com uma vasta cultura e rica em preceitos. São pouquíssimas as pessoas que realmente a conhecem a fundo.È necessária muita dedicação e anos de estudo para se chegar a um conhecimento profundo da religião. Seus preceitos são todos fundamentados e qualquer um pode se dedicar ao seu estudo e desfrutar seus benefícios. Existe muita energia positiva no candomblé, e o seu culto pode trazer muita paz e felicidade.
Origem do Candomblé: Ifé
A antiga cidade de Ifé, ao sudoeste da atual Nigéria, deslumbrava desde o começo do século como capital religiosa e artística do território que cobria uma parte central da atual República do Daomé. É a fonte mística do poder e da legitimidade, o berço da consagração espiritual, e para onde voltaram os restos mortais e as insígnias de todos os reis iorubas.
A civilização de Ifé, ainda hoje, é pouco conhecida e apresenta uma criação artística variada do realismo, enquanto que a maioria da arte africana é abstrata. O material empregado na arte de Ifé espanta e abisma qualquer historiador, incluindo os próprios africanistas. Ao lado das esculturas em pedra e terracota(argila modelada e cozida ao fogo) tradicionais na África, estão as esculturas em bronze e artefatos em perola.
Uma das artes mais conhecidas é a de Lajuwa, que segundo o povo de Ifé permaneceu no palácio real, mostrando os vestígios em terracota, antes de ter sido redescoberta. Lajuwa foi o camareiro de Oni (soberano do reino de Ifé ou Aquele que Possui). A atribuição dessa terracota a Lajuwa não é estabelecida de maneira segura, entretanto a escultura foi preservada e conservou uma superfície lisa, ainda que o nariz tenha sido quebrado.
A maior parte das descobertas das obras foi feita nos BOSQUETES SAGRADOS: vastas extensões de terras situadas no coração da savana. Cada uma destas descobertas é consagrada a esta ou aquela divindade, entre elas:
- BOSQUETE SAGRADO DE OLOKUM: cobre uma superfície de 250 Há. Ao norte da saída da cidade de Ifé. É dedicado a OLOKUM, divindade do mar e da riqueza.
- BOSQUETE SAGRADO D’IWINRIN: encerra numeroso tesouro artístico, testemunhado, na maior parte, uma arte extremamente realista e refinada. Uma delas é de um personagem com 1,60 m de altura, sentado num banco redondo, esculpido em quartzo e provido com um braço curvado para dentro em forma de anel. Apóia o braço em um tamborete retângulo com quatro pés, sendo ladeado por dois outros de igual tamanho natural, um dos quais tem na mão a extremidade de uma vestimenta cortada.
Supõe-se que o artista tenha manuseado a argila crua em separação. Depois de concluído foi seca ao sol e cozida numa imensa fogueira ao ar livre, obtendo uma terracota de cor uniforme.
- BOSQUTE SAGRADO OSONGONGO: os arqueólogos descobriram uma variedade de esculturas de argila cozida e a maior parte de uma mesa micácea. Entre elas está a cabeça da própria OSONGOGON, porém menos refinada do que a de LAJUWA.
Ao lado desta escultura, há numerosas outras representando personagens com deformações físicas, uma delas com elefantíase nos testículos (doença ligada intimamente ao espírito dos negros e à impotência sexual), objeto de tratamento com rituais especiais. Nos funerais, a liturgia era feita por um sacerdote da antiga sociedade ORO, tida aos “ocidentalizados” como forma monstruosa.
O principal achado e o vaso do ritual destes funerais, decorado em relevo. Revela certos ritos e insígnias religiosas de Ifé. Vêem-se com os efeitos: Edans (bastões de bronze, utilizados pelos membros da Sociedade OGBONIS na cerimônia secreta), um bastão de ritual com uma espécie de espiral saliente em ambos os lados, um tambor, um objeto com dois crânios na base, um machado e dois personagens sem cabeças.
- BOSQUESTE SAGRADOS DE ORE: possue abundantes esculturas de homens e animais. O grupo principal é constituído de duas estátuas humanas, a maior é chamada IDENA, o porteiro.
IDENA usa um colar de perolas (contas), diferente dos demais usados em estátuas de terracota. Na cintura ostenta um laço e tem as mãos entrelaçadas. A cabeleira não é esculpida, mas representada por pregos de ferro fincados, como acontece na arte de Ifé.
-BOSQUETE SAGRADO DE ORODI: encontra-se nele uma estátua de pedra com a cabeça e o corpo enfeitado com pregos, similares aos que ornam Idena. Tem na mão direita uma espada e na esquerda um abano. Está situada em Enshure, província do Ado Ekiti.
Criação do Reino de Ifé
O grande Deus Olodumaré enviou Osalufã (orixá) para que criasse o mundo. A ele foi confiado um saco de areia, uma galinha com 5 dedos e um cmaleão. A areia deveria ser jogada no oceano e a galinha posta em cima para que ciscasse e fizesse aparecer a terra. Por ultimo, colocaria o camaleão para saber se estava firme.
Osalufã foi avisado para fazer uma oferenda ao Orixá Essú antes de sair para cumprir sua missão. Por ser um Orixá Funfun, Oxalufã se achava acima de todos e sendo assim, negligenciou a oferenda. Essú descontente , resolveu vingar-se de Osalufã, fazendo-o sentir muita sede. Não tendo alternativa Osalufã furou com seu Apaasoro o tronco de uma palmeira. Um líquido refrescante dela escorreu, era o vinho de palma. Ele saciou sua sede, embriagou-se e acabou dormindo.
Olodumaré, vendo que Osalufã, não cumpriu sua tarefa, enviou Odùdùwa para verificar o ocorrido. Ao retornar e avisar que Osalufã estava embriagado, Odùdùwa recebeu o direito de vir e criar o mundo. Após Odùdùwa cumprir sua tarefa, os outros deuses vêm se reunir a ele, descendo dos céus graças a uma corrente que ainda se podia ver, segundo a tradição, no BOSQUE DE OLOSE, até há alguns anos.
Apesar do erro cometido, uma nov chance foi dada a Osalufã: a honra de criar os homens. Entretanto, incorrigíveis, embriagou-se novamente e começou a fabricar anões, corcundas, albinos e toda espécie de monstros.
Odùdùwa interveio novamente, anulou os monstros gerados Osalufã e criou os homens bonitos, sãos e vigorosos, que foram insuflados com vida por Olodumaré.
Esta situação provocou uma guerra entre Odùdùwa e Osalufã. O ultimo foi derrotado e então Odùdùwa tornou-se o primeiro ONI (rei) de Ifé. Distribuiu seus filhos e os enviou para criar novos e vários reinos fora de Ifé.
Mais tarde os Orixás retornaram a Orum, deixando na terra seus conhecimentos e como deveriam ser cultuados seus toques, comidas e costumes, para que fossem cultuados pelos seus descendentes. Então o ser humano começou a fazer pedido aos Orixás e para que cada pedido fosse atendido eles ofereciam comida em troca.
Ao contrario do que se pensa, nem todos os pedidos são atendidos, embora os Orixás sempre aceitem as oferendas. Quando um orixá recebe um pedido, ele o leva a Olodumaré e este decide se o pedido vai ou não ser atendido. Este julgamento vai ser baseado no merecimento da pessoa que faz o pedido.
O povo continua fazendo oferendas aos Orixás até hoje, pois os Orixás procuram sempre fazer o melhor para as pessoas.
O círculo dos deuses é constituído segundo o número 16, número sagrado no candomblé. Ele se encontra em toda parte: no numero de búzios, no númerode chamas da lâmpada dos sacrifícios, na numeração dos membros físicos e psíquicos, quer dizer, das forças e das partes que possui o homem na organização hierárquica.
Os orixás
Eua: Filha de Oxalá e Iemanjá, é uma deusa casta, que tem o poder de se tornar invisível e de penetrar nos mistérios de Ifá (o deus da adivinhação). Seus domínios são as ilhas e penínsulas, o céu estrelado, a chuva e a faixa branca do arco-íris. No sincretismo religioso, está associada a Nossa Senhora das Neves. Na verdade ela é Irmã Gemêa de Oxumaré e é muito confundida com ele. Na Umbanda-Astrologica vejo grande importancia nesta orixa, com tantos poderes, quando os de seu irmão.
Exu: Filho primogênito de Oxalá e Iemanjá, Exu é aquele que abre os caminhos. Por isso, é sempre o primeiro orixá a ser invocado nas aberturas dos trabalhos, nas oferendas e na leitura do oráculo de búzios. Simboliza a energia dinâmica, o impulso sexual, o fluido vital. Também está associado à comunicação, por ser o intermediador entre os homens e os orixás.
Iansã: Filha de Oxalá e Iemanjá, Iansã tem os atributos da sensualidade, do dinamismo e da coragem. É uma deusa guerreira, representada sempre como uma mulher forte, que porta uma espada e um iruexim (espécie de chicote). Também é senhora dos eguns, os espíritos dos mortos. Seus domínios são os ventos, as tempestades, os raios e o fogo. No sincretismo religioso, está associada à católica Santa Bárbara.
Ibejis: São os orixás crianças, filhos gêmeos de Iemanjá e Oxalá. Simbolizam a dualidade: o quente e o frio, a luz e a escuridão, o masculino e o feminino, o divino e o humano, o início e o fim. No sincretismo religioso, estão associados a Cosme e Damião.
Iemanjá: Esposa de Oxalá e mãe de quase todos os orixás, Iemanjá tem diferentes manifestações, nas quais recebe os nomes de Inaê, Janaína e Oloxum. Seus atributos são a feminilidade, a generosidade, a abundância e a maternidade. No sincretismo religioso, está associada à Virgem Maria.
Ifá: Deus da advinhação, Ifá é o "dono" do jogo de búzios. Seu principal atributo é o conhecimento: ele sabe o que espera cada divindade e cada ser humano, pois é o senhor dos segredos do destino. É um orixa de alta luminosidade e poucas pessoas tem ele muito proximo. Quem tem ele, tem o dom muito forte de premonição e sabe interpretar oraculos com eficiencia. No Tarô é o Arcano 21.
Logum: Filho de Oxóssi e Oxum, tem os atributos da elegência, da beleza e da sedução. Durante seis meses do ano, ele assume a forma masculina e caminha pelas matas, domínios de seu pai caçador. Nos outros seis meses, assume forma feminina e parte para as águas doces, que pertencem à sua mãe. É sempre representado como um adolescente, e também é chamado de Logunedê ou Logun-Edé. No sincretismo religioso, está associado a São Miguel Arcanjo e a Santo Expedito.
Nana: Também chamada de Nanã Burukê, esta é uma orixá muito antiga, que em diversos mitos aparece como co-criadora do mundo (no mesmo patamar de Oxalá e de Olorum). É uma das esposas de Oxalá (ao lado de Iemanjá) e em muitas regiões brasileiras recebe o carinhoso apelido de Vovó. Tem como atributos a fecundidade, a riqueza e o ciclo de morte e renascimento. Seu domínio é a lama, mistura de terra e água que simboliza a origem da vida. No sincretismo religioso, está associada a Santa Ana, mãe de Maria.
Oba: Filha de Oxalá e Iemanjá, deusa guerreira das águas revoltas, Obá é uma sofredora. Conta a lenda que ela era uma das esposas de Xangô, mas sofria por ver que o marido só tinha olhos para a bela e ciumenta Oxum. Inocentemente, foi se aconselhar com a favorita do esposo, e perguntou-lhe qual o segredo para conquistar o coração de Xangô. Astuta, Oxum sugeriu que Obá cortasse a própria orelha e a servisse como um quitute sangrento para o marido - diante desse gesto, ele ficaria louco de paixão! No entanto, Oxum sabia muito bem que Xangô não tolerava ver sangue, e depois que Obá seguiu o maquiavélico conselho, o deus guerreiro criou verdadeira repulsa por ela! No sincretismo religioso, Obá está associada a Santa Catarina, Santa Joana D´Arc e Santa Marta.
Obaluaiê: Filho de Oxalá e Nanã, esse orixá, que também é conhecido pelos nomes de Omulu e Xapanã, é o senhor da morte e da vida, da doença e dacura. Seu rosto se oculta sob uma vestimenta de palha, material empregado nos ritos fúnebres africanos. Conta a lenda que, ao nascer, Obaluaiê era tão feio que sua mãe não suportou olhá-lo, e quem o criou foi a doce e maternal Iemanjá. No sincretismo religioso, está associado a São Lázaro e a São Roque.
Ogum: Filho de Oxalá e Iemanjá, Ogum é o desbravador de todos os caminhos. Tem a coragem, a força e a impetuosidade como atributos. Segundo os africanos, foi o criador do ferro e da metalurgia, tendo aberto novas perspectivas para a civilização humana. No sincretismo religioso, está associado a Santo Antonio e a São Jorge.
Olorum: É o orixá que simboliza o céu. Não é representado sob nenhuma forma material, e seus atributos são a totalidade, a perfeição e a universalidade.É um nivel muito elevado, simbolo do poder do Criador.
Ossaim: Filho de Oxalá e Iemanjá, este orixá, que também recebe o nome de Ossanha, tem como atributos a cura e a magia. É o orixá das folhas, e portanto, das ervas medicinais. De acordo com os mitos africanos, ele é muito respeitado por todos os outros deuses, pois até os orixás dependem do poder das folhas para se revigorarem. As palavras que ativam o poder curativo das plantas é um mistério dominado exclusivamente pelos sacerdotes de Ossaim.
Oxalá: É o pai supremo, que separou o mundo material do mundo espiritual, criou os seres vivos e gerou os orixás. Tem o poder de reger a vida e a morte, e ao mesmo tempo em que é bondoso e tolerante, também pode tornar-se firme e severo. No entanto, Oxalá prefere sempre seguir o caminho do amor. Suas esposas são Nanã e Iemanjá, e o único orixá que se encontra acima dele é Olorum (o céu). Quando representado em sua forma jovem, Oxalá recebe o nome de Oxaguiã. No sincretismo religioso, está associado a Jesus.
Oxossi: Filho de Oxalá e Iemanjá, é o orixá provedor, cuja habilidade em caçar garante a alimentação de todos os outros deuses. Seus atributos são a fartura e a perseverança (afinal, é preciso saber a hora certa para atirar a flecha!). Seus domínios são as matas. É considerado como o guardião da agricultura e da natureza. No sincretismo religioso, está associado a São Jorge e a São Sebastião.
Oxum: Filha de Oxalá e Iemanjá, Oxum tem como atributos a beleza, a fertilidade, a riqueza e o poder de gestação. É uma deusa vaidosa e sensual, que personifica a feminilidade. Seus domínios são as águas doces (que irrigam e fertilizam os campos) e o ouro. No sincretismo religioso, está associada a Nossa Senhora das Candeias e a Nossa Senhora Aparecida.
Oxumaré: Filho de Oxalá e Nanã, ele é o arco-íris que liga o céu e a terra, a serpente que fecunda o solo e gera riquezas. Feminino e masculino ao mesmo tempo, simboliza a interação das energias. Além disso, é senhor da dualidade, do movimento, do girar incessante da vida, da perpétua renovação. Em forma de serpente, Oxumaré morde a própria cauda e assume uma forma circular que lhe permite manter em equilíbrio os corpos celestes. No sincretismo religioso, está associado a São Bartolomeu.
Xangô: Senhor dos raios, do fogo e das pedras, Xangô é um dos orixás mais populares do Brasil. Seus atributos são a firmeza de caráter, o senso de justiça, o amor à verdade, o orgulho e a autoridade. No sincretismo religioso, está associado São Francisco de Assis, São Jerônimo, São João Batista e São Pedro.